quarta-feira, 4 de junho de 2008

Obrigada Moçambique - por Francisco Cascalhais

Era uma aula de Luta e Defesa Pessoal, com uma componente física acentuada, pelo qual, nós, eu e o outro instrutor desta disciplina, solicitámos que todos os instruendos deixassem a parte de cima do uniforme na “caserna” e viessem só de T-shirt.

Preparados par dar início à aula, qual não é o nosso espanto quando reparámos que está um instruendo, Exequias Mandate, em tronco nu, ou seja, sem camisola!

- Sr. Exéquias, a sua T-shirt? - perguntei-lhe.

- Desculpe Sr. Instrutor, mas eu não... não tenho T-shirts! - respondeu algo embaraçado e desconfortável.

Por alguns segundos fiquei estático e incrédulo, como se tivesse levado uma paulada na cabeça... o constrangimento dele passou de imediato para a minha pessoa... “Como era possível nos dias de hoje um agente de autoridade não ter condições para comprar uma T-shirt?”, interrogava-me.

Num acto irreflectido, dispo a minha e entrego-lha... Em simultâneo e não esperando semelhante reacção, os restantes 29 instruendos começam a bater palmas de tal forma que acabaram por me deixar completamente “encavacado”, pois, não esperava tal reacção por algo que para nós é pouco normal, “desenrascar” o próximo com o pouco que temos. Acabei por dar a aula com o dólmen da minha farda, ficando no final como devem calcular... todo transpirado.

Há pequenos gestos que a nós não nos custam nada mas que para os outros são de extrema importância! A título de curiosidade, nos dias subsequentes a este episódio, sempre que nós, instrutores Portugueses, entrávamos no Quartel, todos se levantavam e cumprimentavam com enorme sorriso e posição de respeito. A notícia tinha corrido rápido! Penso ser este sentido de partilha e comportamento, próprio de todos nós, “Tugas”, a chave do sucesso e do reconhecimento que se tem granjeado pelo Mundo fora nas Missões Internacionais em que Portugal e em particular a GNR tem participado.

Gente da minha terra, é com esta pequena história que, mais uma vez, volto a interagir com todos vós, sempre com a firme convicção que todos sabeis que as histórias e situações que vos transmito passaram-se comigo, como passar-se-iam com os demais que, estando na minha posição, tivessem a oportunidade de as viver. Não é numa perspectiva de valorização que as compartilho, mas sim, para me ajudar a passar o tempo onde me encontro neste momento, longe de tudo e todos, e ao mesmo tempo para me manter mais próximo de todos vós!

Tudo isto se passou no Verão de 2007, de 23 de Agosto a 21 de Outubro, quando fui nomeado, em conjunto com mais dois instrutores, integrado no projecto de apoio ao desenvolvimento dos países lusófonos sob a responsabilidade do IPAD (Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento) para ir ministrar formação de Ordem Pública à FIR (Força de Intervenção Rápida) da Policia da República de Moçambique.

Desta feita uma missão sem carácter Humanitário ou de Paz mas, na minha modesta opinião, também ela revestida de alguma nobreza por parte do nosso País, porquanto e após constatar a realidade das dificuldades vividas, a todos os níveis, neste magnifico País Africano que outrora nos pertenceu, encontrei a justificação para a decisão tomada por quem tem essa competência. Encontrando grandes dificuldades ao nível das infra-estruturas, equipamento e armamento para ministrar o curso de RMOP (Restabelecimento e Manutenção de Ordem Pública) aquilo a que nos propúnhamos estava acima daquilo que podíamos desenvolver. Foi pedindo uma coisa aqui, outra acolá, que conseguimos colmatar e suprimir as grandes carências vividas pela Policia da República de Moçambique. A título de exemplo posso vos dizer que alguns dos capacetes (peça essencial neste trabalho) não tinham como apertar, ou seja, se tivessem de correr com estes na cabeça está-se mesmo a ver o que sucedia!

Uma das matérias tinha como conteúdo Agentes Incendiários, aprender a apagar o fogo sem ajudas exteriores (extintores, etc.) no escudo de protecção e na roupa caso fosse lançado um “cocktail molotof” (garrafa de combustível a arder) sobre o agente, o que para tal ser correctamente executado, seria imperioso a utilização de luvas e botas, mais que não fosse, de cabedal, para assim minimizar as probabilidades de o fogo ter contacto com a pele. Foi completamente impossível fornecer tal material e foi através de algum improviso que, mais uma vez, conseguimos aproximar da realidade tal instrução.
Encontrando gente de bom trato, muito afável e surpreendentemente comunicativa, precisando de pouco para devolver um sorriso, contribuíram sobremaneira para o culminar de mais uma experiência profissional e humana que jamais olvidarei.

País com fortes perspectivas de desenvolvimento e enormes potencialidades, poderá num futuro próximo ser um grande e aliciante destino turístico para aqueles que gostam de calor, natureza e praia! Recomendo uma pesquisa na net!

Sei que estiveram outros Santoamadorenses em Moçambique no tempo da Guerra Colonial, quando a Capital ainda era Lourenço Marques, e que de certo gostariam de voltar a visitar, noutras circunstâncias, claro, tão distinto País!

1º CursoDespeço-me de todos vós, pedindo desculpa por só relatar histórias vividas fora da nossa terra mas, para além de já ter mais de metade da minha vida fora dela, também já me faltam muitos detalhes daquelas que me lembro e poderia contar... lololol!

Para todos vós um grande bem-haja e...

VIVA A NOSSA SELECÇÃO!!!!!










4 comentários:

Anónimo disse...

Olà Bituco gustei de ler as tuas estorias que jà devem quase dar para escreveres um livro com as tuas aventuras,gosto da maneira como esplicas as coisas e como escreves jà pareses um escritor,gustei do teu jesto da t-chirt um verdadeiro Santamadorence
comprimentos fica bem.
MINDO.

Anónimo disse...

Olá espero que esteja tudo bem por ai.Gostei do que li, mas acho se o instruendo fosse o Marcelimo tu não lhe davas a T-shirt para o fazeres chorar, LOL...
Espero que corra tudo bem.
Célia Almeida

Lena disse...

Olá Francisquinho,

Adoro ler os teus relatos, que nos fazem pensar que por esse mundo fora há realidades bem diferentes da nossa vida (já bem difícil), contudo ainda vivida neste paraíso à beira-mar plantado.
Gosto muito da tua escrita, simples e directa, sempre transbordando as tua emoções.
Escreve mais vezes.

Um beijinho
Lena

Anónimo disse...

Olá Francisquinho!
Pois são historias que marcam uma vida!
Agora a Célia tem razão, quando era mais novo era só dizerem a palavra mágica e eu desatava na choradeira! lol
Um abraço Marcelino Batista