quinta-feira, 20 de março de 2008

Carta num dia do Pai...


Escrevi esta carta ao meu pai a 19 de Março de 1980 e nunca lha entreguei; ele faleceu de acidente de viação a 26 de Novembro do mesmo ano. Jurei nunca mais guardar cartas na gaveta.


“Pai,
Hoje é o teu dia e não tenho nada para te oferecer. Quero dizer-te tanta coisa e não consigo, quero abraçar-te e não sou capaz.

Gostava de te dizer que te adoro mesmo quando te vejo embriagado e fico sem alegria; queria dizer-te que os teu cabelos brancos são muito valiosos para mim pois mostram-me que a idade vai tomando conta de ti e isso significa que tal como eu, já foste jovem, mas nesse tempo, durante a tua juventude, trabalhavas nos campos alentejanos, de sol a sol com o suor escorregando pelo teu rosto (agora já com as rugas a aparecer), para hoje teres a alegria de me dares o que nunca tiveste.

Queria dizer-te tudo isto mas não sou capaz porque entre nós não existe diálogo ... por isso, apenas consigo continuar a chamar-te PAI.

A tua filha que te adora,
Lena”


Possivelmente, estas linhas traduzem os sentimentos de quem cresceu e ainda cresce com um pai que vai emborcando um copinho a mais, roubando toda a hipótese de diálogo. Só por isso a publico, talvez algum desses pais a leia aqui ... e se consciencialize do que nós, filhos, sentimos.
Foi um carta muito sofrida na altura e hoje ainda o continua a ser; é inevitável rolar-me uma lágrima pela cara abaixo cada vez que a releio, e já lá vão 28 anos.

Mensagem enviada por Helena Amante

Antes de mais queria pedir as minhas desculpas por não ter colocado ontem a mensagem no blog, mas como ontem à noite não consultei a caixa de correio electrónico do blog, não podia saber que lá estava a carta… :(

Aconselho uma visita ao blog da Helena Amante -> www.bocado-de-mim.blogspot.com

1 comentário:

Anónimo disse...

Não tens que pedir desculpa ... é perfeitamente entendível que a carta foi escrita no Dia do Pai. Ainda que tivesse sido publicado pela Páscoa, S. Martinho ou Natal, tenho a certeza que a mensagem não passava despercebida.

Uma boa Páscoa (se S. Pedro ajudar) a todos os Santamadorenses