Eu arrebento fugindo
A caminho do Morgado,
É raro eu chegar a horas,
Chego quase sempre atrasado.
Já lhe sei dar o desconto
Nesta questão de carreiras,
Desde que tirei a primeira
Nunca mais lhe dei com o conto
Quando nas botas me monto
Por vezes até vão “ringindo”,
Eu vou sempre resistindo
Galgando covas e sesmos
Eu digo comigo mesmo
Devo rebentar fugindo
Os colegas ao verem-me chegar,
Estão sentados junto ao lume
E como é já de costume
Começam a buzinar;
Eu começo a disfarçar
Para não me verem zangado,
Chego lá sempre suado
Tenho muita resistência.
É preciso ter paciência
A caminho do Morgado.
Mas se eu pedisse ao Feitor,
Talvez ele concordasse
Talvez que ele me comprasse
Uma bicicleta a motor,
Não me fazia favor
Mas não teria melhoras
Passava a ter mais demoras
Dava o mesmo resultado
Alguém era atropelado
E também não chegava a horas.
Se a vida se proporcionasse
Só comprando um avião
Passava a partir então,
Além quando o sol nasce
Não havia quem me ganhasse
E já não era apupado
Eu já estou acostumado
É por isso que não estranho
Não sei como é que eu me amanho
Chego lá sempre atrasado.
Autor - Domingos António Fialho Valente
Poema que integra o livro "Memórias - Poesia Popular" editado pela ADASA - Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental de Santo Amador, em Outubro de 2001
Sem comentários:
Enviar um comentário